julho 25, 2012

SANGUESSUGAS / LEECHES



 Ela acordou e, como de costume dirigiu-se ao banheiro. Não dormiu bem à noite, pois estava sentindo terríveis dores abdominais. Eram as ditas cólicas, próprias das mulheres que estão a todo vapor em seu ciclo menstrual. Dor. Há quem diga que para alcançarmos o Nirvana, o paraíso eterno, temos que nos sacrificar fazendo a nós mesmos coisas bizarras que segundo alguns, seriam da vontade de alguma entidade divina.
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Sentou-se no vaso sanitário e olhou por entre suas pernas. Seu absorvente estava tomado por sangue. Fazia 13 dias que estava nesta situação. Nunca havia acontecido algo parecido. Se fosse apenas isso estava tudo bem. Logo isso acabaria para tudo se repetir um mês depois. Entretanto havia algo estranho emaranhado junto à seu rubro fluído. Coisas que pareciam apenas sangue gosmento, em estado quase sólido. Ela começou a fitá-las e viu que não era sangue. As coisas se moviam como anelídeos, por movimentos peristálticos.
Eram anelídeos. Sanguessugas jamais vistas.
Maria tinha engravidado há cinco meses. Quando ela descobriu, já era tarde para tentar eliminar o feto por maneiras simples, pois o mesmo tinha dois meses. Então, mesmo assim ela tentou uma técnica que viu pela internet: ingestão de chá de carqueja e boldo juntamente com o acoplamento no útero de larvas de sanguessugas através do canal vaginal. Ela o fez. Conseguiu sanguessugas com um amigo que sabia tudo sobre elas e esperou liberarem suas larvas.
Feito o processo Maria estava aliviada e, ao mesmo tempo em que agradeceu a deus por ter se livrado do problema, ela pediu perdão por ter jogado fora uma vida, vida tal que deveria ter sido protegida a todo custo. Nem antes de seu surgimento poderia ter sido rejeitada segundo o catolicismo, pois como todos sabem não se deve usar camisinha para evitar que ocorra a continuidade da espécie humana. Imaginem nosso mundo não mais com seis bilhões de pessoas, mas muito, muito, além disto.
Então, passados mais de 20 dias do processo, ela começou a “menstruar”. Mal imaginava ela que eram as larvas que estavam começando a crescer, e, para crescer elas têm que comer! Primeiramente as larvas começaram a digerir o feto rejeitado e morto pela impiedosa mãe. Parte a parte, o sangue foi sendo sugado, fazendo com que a carne fosse se decompondo de forma acelerada, tal qual a nossa passagem pelo Planeta Terra, imperceptível.
Logo após, as larvas passaram a se alimentar de sua placenta e seus outros anexos embrionários, bem como o útero, impossibilitando-a de um dia vir a ser mãe. Sonho que ela tinha, mas que não era para se tornar realidade naquele momento.
O pai da criança era um padre. Já imaginou o escândalo se alguém ficasse sabendo de sua gravidez? Iriam querer saber quem era o pai. E o que ela diria? Não encontrou outra alternativa se não eliminar o bebê e, viu nos hirudíneos uma maneira teoricamente “simples” e barata de fazê-lo.
O padre assim que ficou sabendo da gravidez, apoiou totalmente a idéia da garota de abortar o organismo. Um padre. Um ser humano. Alguém que teria que defender a vida acima de tudo, alguém que ama a deus sobre todas as coisas e considera todos semelhantes, com direitos iguais a viver. Um padre. Um religioso. Um hipócrita.
E os anelídeos continuaram seu processo alimentar. Continuaram a crescer e ainda mais, se reproduzir. A garota começava a ficar inchada, principalmente na região abdominal. Sentia muita dor; os analgésicos já não mais adiantavam. Ela não queria se render, não queria que um médico descobrisse que tentou abortar, pois isto era crime e ela corria perigo de ser presa. Mas ela pensou: Médico para que? Alguns acham-se melhor do que qualquer outra classe empregatícia. Adoram ser auto-intitulados de doutores, sem merecer o título, pois os mesmos não passaram pelo processo difícil que é um doutorado.
Ela pensou até em ir a uma curandeira que morava em seu bairro, apesar de não acreditar em superstições. Pensou em pensou e... Não foi. Continuou com seu sofrimento.
Agora as sanguessugas já estavam sugando tudo de seus intestinos e estômago. A garota estava sempre com fome e quando comia, tinha a sensação de que a comida simplesmente sumia, ou seja, desviava-se de seu trajeto até o intestino grosso.
Conseguiu dirigir até sua casa no interior da cidade mesmo se sentindo fraca. Isso porque já havia anelídeos em sua veia aorta, terminando com suas células sanguíneas. Começou a perder seus reflexos e demorar em processar as informações. Já havia anelídeos em seu cérebro. Os mais minúsculos conseguiram migrar para esta região. Sem sangue, sem células sanguíneas. Sem células sanguíneas, sem transporte de oxigênio. Sem transporte de oxigênio, sem oxigenação cerebral. Sendo assim, ocorreu sua morte encefálica.
Apesar das sanguessugas serem utilizadas medicinalmente, de fazerem o sangue circular, desta vez houve uma inversão dos papéis. A garota era utilizada como alimento. Finalmente, após acabar o estoque sanguíneo, as sanguessugas desalojaram-se do corpo dela e saíram a procura de outra fonte de alimento, agora elas precisavam de carboidratos, lipídeos, entre outros nutrientes. Partiram para comer os mais diversos animais que existem.
E a garota? Foi punida por seu livre-arbítrio de escolher ser mãe ou não. Agora estava morta.


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She woke up and as usual, went to bathroom. She didn’t sleep well at night because was feeling terrible abdominal pain. It was the so-called colic, typical of women who are in full swing in their menstrual cycle. Pain. There are someone who say that to reach Nirvana, the eternal paradise, we must sacrifice ourselves, doing bizarre things, that, according to some, would be the will of some deity.

                                                           . . .
He sat on the toilet and looked between her legs. Its absorbent was taken for blood. It had been 13 days she was in this situation. Never happened something like that. If it was just that everything was fine. Soon it would be repeated a month later. But there was something strange tangle next to his red fluid. Things that seemed only blood gooey, almost solid state. She began to stare at them and saw that there wasn’t blood. Things moved like annelids, by peristalsis.
They were annelids. Leeches ever seen.
Mary was pregnant five months ago. When she discovered it was too late to try to remove the fetus by simple ways, because it had two months. So anyway she tried a technique she saw on the internet: intake of Gorse and Boldo tea together with the coupling in the uterus of larvae leeches through the birth canal. She did. Gotta leeches with a friend who knew all about them and waited to release their larvae.
Made the process Mary was relieved and at the same time thanked God for getting rid of the problem, she apologized for having thrown away a life, life that should have been protected at all costs. Not before his appearance life could have been rejected according to Catholicism, because as everyone knows, we shouldn’t use condoms to prevent the occurrence of the continuity of human species. Imagine our world with no more than seven billion people, but much, much further.
Then, after more than 20 days of the process, she began to "menstruate." He didn’t know it were larvae that were beginning to grow, and to grow, they have to eat! First the larvae began to digest the fetus rejected and killed by ruthless mother. Piece by piece, the blood was being sucked out, causing the flesh was decomposing rapidly, as is our passage through the Earth, imperceptible.
Soon after, the larvae began to feed his placenta and its other attachments embryo and the uterus, preventing it from one day to become a mother. Dream she had, but it was not to become reality at that moment.
              The child's father was a priest. ver wondered if someone noticing scandal of her pregnancy? The people would want to know who the father was. And what would she say?  She found no
other alternative, but to remove the baby and saw in the leeches a way theoretically "simple" and inexpensive to do so.
The priest, so he learned of the pregnancy, fully supported the idea of aborting the girl's body. A priest. A human being. Someone would have to defend life, above all, someone who loves God above all things and believes all humans are similar, with equal rights to live. A priest. A religious. A hypocrite.
And the annelids continued their feeding process. Continued to grow and further, to reproduce. The girl began to get swollen, especially in the abdominal region. She felt much pain, analgesics are not sufficient more. She would not surrender, didn't want a doctor discovered that she tried to abort, this was a crime and she was in danger of being arrested. But she thought: Why a doctor? Some think himselves are better than any other class employment. They love to be self-appointed “doctors”, without deserving the title, as a big part of they have not undergone the difficult process which is a doctorate.
She even thought of going to a healer who lived in his neighborhood, although not believe it. She thought and thought ... She didn’t go. He continued with his suffering. ow the leeches were already sucking all of your intestines and stomach. The girl was always hungry and when she ates, she had the feeling that the food was simply disappeared, or turned away from its path to the large intestine.
She gotta drive to her country house even if feeling weak. It because she had annelids in his vein aorta, ending with their blood cells. He began to lose its reflections and take so long to process the information. She had leeches in his brain. The tiniest ones were able to migrate to this region. No blood, no blood cells. No blood cells, without oxygen transport. Without oxygen transport, without oxygen to the brain. Thus, encephalic death occurred.
 Despite the leeches were used medicinally, to make the blood flow, this time there was a reversal of roles. The girl was used as food. Finally, after finishing the stock bloodstream, dislodged the leeches to her body and went looking for another source of food, now they needed carbohydrates, lipids and other nutrients. Left to eat all kinds of animals that exist.
          And the girl? Was punished by his free-will to choose to be a mother or not. Now he was dead.


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