maio 29, 2010

'Aplicabilidade''

Depois de ler uma entrevista publicada na Folha de S. Paulo do Biólogo Martin Chalfie, resolvi fazer alguns comentários. Chalfie ganhou o prêmio Nobel de Química em 2008 por descobrir em conjunto com outros cientistas, uma proteína bioluminescente em águas-vivas capaz de ativar a marcação de genes específicos. Mas o que mais me chamou atenção na entrevista, foi o ponto que ele defende sobre a realização de pesquisas, algo que eu estive conversando há algum tempo atrás com meu namorado.
Assim como nós (eu e Mario) Martin pensa que não deve haver esta imposição por parte das pessoas para que as pesquisas feitas tenham que ter obrigatoriamente alguma aplicabilidade, seja ela economica, sanitária ou alguma outra.
Já esquentei muito a minha cabeça tentando encontrar algum tema para realização do TCC (trabalho de conclusão de curso) que, ao mesmo que me atraia, tenha uma aplicação para a sociedade. Eu tinha começado a ter essa opinião devido à alguns TCCs que li, à algumas exigências para realização de projetos de iniciação científica, bem como orientações de professores. Assim como falou Chalfie, as importantes descobertas ou a ''ciência pura'' estão ficando sem sentido, sem relevância. Isso realmente é lamentável.
É lamentável pensar que você pode não ser aceito pelo simples fato de propor alguma pesquisa que envolva "apenas" a aquisição de conhecimento sobre determinado assunto, afinal, falta a aplicabilidade. Faltam os interesses que satisfaçam aos seres humanos. Oras! O conhecimento obtido através da pesquisa não é relevante?
Se não é, porque nos ensinam no ensino fundamental e no ensino médio tantos itens sobre História? Eu poderia simplesmente dizer que eu não me interesso por história e que igualmente não gostaria de trabalhar com este tema, logo, para mim não haveria aplicabilidade alguma.
No entanto, não é magnífico saber como tudo começou? Como surgiu a cidade onde eu moro, quantas revoltas ocorreram para que existisse meu estado, como se deu a formação do continente onde estou, por que as bordas litorâneas da América do Sul são adjacentes às da África, etc.
Falando do conhecimento do nosso próprio corpo, não é interessante saber localizar e nomear ossos que nos compõem? O que ocorre no nosso organismo no momento em que sentimos dor ou quando sentimos necessidade de urinar?
Para que saber essas questões de Biologia ou de História (assim como outras disciplinas) se eu não vou precisar trabalhar em função delas? Este é um exemplo de indagação de muitas pessoas.
Eu admito que, quando estava em dúvida se faria Ciências Biológicas ou não, pensava que não veria mais Matemática, Física e Química na minha frente. Realmente o contrário. Tenho matérias como Matemática, Bioestatística, Física, Biofísica, Química Orgânica, Química Inorgânica e Bioquímica. Hoje em dia, as disciplinas que eu queria distância me atraem, sendo assim posso dizer que tenho a mente livre para apreciar todo e qualquer tipo de conhecimento que vai da Química à Astronomia.
O que estou querendo dizer é que conhecimento nunca é demais, nunca. Sua produção deve ser respeitada e apoiada, pois, de uma forma ou outra, este bem adquirido não se perde jamais. As coleções de fauna que foram queimadas no Instituto Butantã se perderam, talvez por negligência e falta de infra-estrutura, no entanto, o conhecimento adquirido através do estudo de alguns dos espécimes não se decompõe.
Espera-se que, neste vai e vem de cargos no governo, chegue um momento em que as pesquisas em si passem a receber mais apoio, pois só assim os pesquisadores conseguirão se focar em seus objetivos sem ter que ficarem procurando aplicabilidade para tudo, desta forma, teremos talvez, pessoas mais realizadas em seus trabalhos. Assim, serão disseminados conhecimentos considerados renováveis, pois de geração para geração ele será repassado, e se alguém perceber que algo lido não é condizente tem o poder de corrigir. Esta é a ciência, surpreendentemente dinâmica.

“Só o conhecimento nos liberta”

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