Ela acordou e, como de costume dirigiu-se ao
banheiro. Não dormiu bem à noite, pois estava sentindo terríveis dores
abdominais. Eram as ditas cólicas, próprias das mulheres que estão a todo vapor
em seu ciclo menstrual. Dor. Há quem diga que para alcançarmos o Nirvana, o
paraíso eterno, temos que nos sacrificar fazendo a nós mesmos coisas bizarras
que segundo alguns, seriam da vontade de alguma entidade divina.
. . .
Sentou-se no vaso sanitário e olhou
por entre suas pernas. Seu absorvente estava tomado por sangue. Fazia 13 dias
que estava nesta situação. Nunca havia acontecido algo parecido. Se fosse
apenas isso estava tudo bem. Logo isso acabaria para tudo se repetir um mês
depois. Entretanto havia algo estranho emaranhado junto à seu rubro fluído.
Coisas que pareciam apenas sangue gosmento, em estado quase sólido. Ela começou
a fitá-las e viu que não era sangue. As coisas se moviam como anelídeos, por
movimentos peristálticos.
Eram anelídeos. Sanguessugas jamais
vistas.
Maria tinha engravidado há cinco
meses. Quando ela descobriu, já era tarde para tentar eliminar o feto por
maneiras simples, pois o mesmo tinha dois meses. Então, mesmo assim ela tentou
uma técnica que viu pela internet: ingestão de chá de carqueja e boldo
juntamente com o acoplamento no útero de larvas de sanguessugas através do
canal vaginal. Ela o fez. Conseguiu sanguessugas com um amigo que sabia tudo
sobre elas e esperou liberarem suas larvas.
Feito o processo Maria estava
aliviada e, ao mesmo tempo em que agradeceu a deus por ter se livrado do
problema, ela pediu perdão por ter jogado fora uma vida, vida tal que deveria
ter sido protegida a todo custo. Nem antes de seu surgimento poderia ter sido
rejeitada segundo o catolicismo, pois como todos sabem não se deve usar
camisinha para evitar que ocorra a continuidade da espécie humana. Imaginem
nosso mundo não mais com seis bilhões de pessoas, mas muito, muito, além disto.
Então, passados mais de 20 dias do
processo, ela começou a “menstruar”. Mal imaginava ela que eram as larvas que
estavam começando a crescer, e, para crescer elas têm que comer! Primeiramente
as larvas começaram a digerir o feto rejeitado e morto pela impiedosa mãe.
Parte a parte, o sangue foi sendo sugado, fazendo com que a carne fosse se
decompondo de forma acelerada, tal qual a nossa passagem pelo Planeta Terra,
imperceptível.
Logo após, as larvas passaram a se
alimentar de sua placenta e seus outros anexos embrionários, bem como o útero, impossibilitando-a
de um dia vir a ser mãe. Sonho que ela tinha, mas que não era para se tornar
realidade naquele momento.
O pai da criança era um padre. Já
imaginou o escândalo se alguém ficasse sabendo de sua gravidez? Iriam querer
saber quem era o pai. E o que ela diria? Não encontrou outra alternativa se não
eliminar o bebê e, viu nos hirudíneos uma maneira teoricamente “simples” e
barata de fazê-lo.
O padre assim que ficou sabendo da
gravidez, apoiou totalmente a idéia da garota de abortar o organismo. Um padre.
Um ser humano. Alguém que teria que defender a vida acima de tudo, alguém que
ama a deus sobre todas as coisas e considera todos semelhantes, com direitos
iguais a viver. Um padre. Um religioso. Um hipócrita.
E os anelídeos continuaram seu
processo alimentar. Continuaram a crescer e ainda mais, se reproduzir. A garota
começava a ficar inchada, principalmente na região abdominal. Sentia muita dor;
os analgésicos já não mais adiantavam. Ela não queria se render, não queria que
um médico descobrisse que tentou abortar, pois isto era crime e ela corria perigo
de ser presa. Mas ela pensou: Médico para que? Alguns acham-se
melhor do que qualquer outra classe empregatícia. Adoram ser auto-intitulados
de doutores, sem merecer o título, pois os mesmos não passaram pelo processo
difícil que é um doutorado.
Ela pensou até em ir a uma
curandeira que morava em seu bairro, apesar de não acreditar em superstições.
Pensou em pensou e... Não foi. Continuou com seu sofrimento.
Agora as sanguessugas já estavam
sugando tudo de seus intestinos e estômago. A garota estava sempre com fome e
quando comia, tinha a sensação de que a comida simplesmente sumia, ou seja,
desviava-se de seu trajeto até o intestino grosso.
Conseguiu dirigir até sua casa no
interior da cidade mesmo se sentindo fraca. Isso porque já havia anelídeos em
sua veia aorta, terminando com suas células sanguíneas. Começou a perder seus
reflexos e demorar em processar as informações. Já havia anelídeos em seu
cérebro. Os mais minúsculos conseguiram migrar para esta região. Sem sangue,
sem células sanguíneas. Sem células sanguíneas, sem transporte de oxigênio. Sem
transporte de oxigênio, sem oxigenação cerebral. Sendo assim, ocorreu sua morte
encefálica.
Apesar das sanguessugas serem
utilizadas medicinalmente, de fazerem o sangue circular, desta vez houve uma
inversão dos papéis. A garota era utilizada como alimento. Finalmente, após
acabar o estoque sanguíneo, as sanguessugas desalojaram-se do corpo dela e saíram
a procura de outra fonte de alimento, agora elas precisavam de carboidratos,
lipídeos, entre outros nutrientes. Partiram para comer os mais diversos animais
que existem.
E a garota? Foi punida por seu
livre-arbítrio de escolher ser mãe ou não. Agora estava morta.
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She woke up
and as usual, went to bathroom. She didn’t sleep well at night because was
feeling terrible abdominal pain. It was the so-called colic, typical of women
who are in full swing in their menstrual cycle. Pain. There are someone who say
that to reach Nirvana, the eternal paradise, we must sacrifice ourselves, doing
bizarre things, that, according to some, would be the will of some deity.
. . .
He
sat on
the toilet and looked between her
legs. Its absorbent was taken for blood.
It had been 13 days she was in this situation. Never
happened something like that. If it was just that everything
was fine. Soon it would
be repeated a month later. But there was something strange tangle next to his red fluid. Things that seemed only blood gooey, almost
solid state. She began to stare at them
and saw that there wasn’t blood.
Things moved like annelids, by peristalsis.
They
were annelids.
Leeches ever seen.
Mary
was pregnant
five months ago. When she discovered
it was too late to try to remove the fetus by simple
ways, because it had two months.
So anyway she
tried a technique she saw on the internet: intake of Gorse and
Boldo tea together with the coupling
in the uterus of larvae leeches through the birth canal.
She did. Gotta leeches
with a friend who knew all about them and waited to release their larvae.
Made the process Mary was relieved and
at the same time thanked God for getting rid of
the problem, she apologized for
having thrown away a life, life that should have been protected at all costs. Not before his
appearance life could have been rejected according to Catholicism,
because as everyone knows, we shouldn’t use condoms to prevent the occurrence of the continuity of human species. Imagine our world with
no more than seven billion people,
but much, much further.
Then, after more than 20 days
of the process, she began to "menstruate." He didn’t know it
were larvae that were beginning to grow,
and to grow, they have to eat! First the larvae began
to digest the fetus rejected and killed by ruthless
mother. Piece by piece, the blood
was being sucked out, causing the flesh was decomposing
rapidly, as is our
passage through the Earth, imperceptible.
Soon
after, the larvae began to feed his
placenta and its other attachments embryo and
the uterus, preventing it from one day to become a
mother. Dream she had, but
it was not to become reality at that moment.
The child's
father was a priest. ver wondered
if someone noticing scandal of her pregnancy? The people would want to know who
the father was. And what would she say? She found no
other alternative, but to remove the baby and saw
in the leeches a way theoretically "simple" and inexpensive to do so.
The priest, so he learned of the pregnancy, fully supported the idea of
aborting the girl's body. A priest. A human being. Someone would have to defend
life, above all, someone who loves God above all things and believes all humans
are similar, with equal rights to live. A priest. A religious. A hypocrite.
And the annelids continued their feeding process. Continued to grow and further,
to reproduce. The girl began to get swollen,
especially in the abdominal region. She felt much pain, analgesics are not sufficient more. She would not surrender, didn't want a doctor discovered that she tried to abort, this was a crime and she was in danger of being arrested. But she thought:
Why a doctor? Some think himselves
are better than any other class employment. They love to be
self-appointed “doctors”, without deserving the title, as a big part of they
have not undergone the difficult process which is a doctorate.
She even thought of going to a healer who lived in his neighborhood, although not believe it. She thought and thought ... She didn’t go. He continued with his suffering. ow the leeches were already sucking all of your intestines and stomach. The girl was always hungry and when she ates, she had the feeling that the food was simply disappeared, or turned away from its path to the large intestine.
She
gotta drive
to her
country house even if feeling weak. It because she had annelids in his vein aorta, ending with their blood cells. He began to lose its reflections and take so long to process the information. She had leeches in his brain. The tiniest ones were able to migrate to this region. No blood, no blood cells. No blood cells, without oxygen transport. Without oxygen transport, without oxygen to the brain. Thus, encephalic death occurred.
Despite the leeches were used medicinally, to make the blood flow, this time there was a reversal of roles. The girl was used as food. Finally, after finishing the stock bloodstream, dislodged the leeches to her body and went looking for another source of food, now they needed carbohydrates, lipids and other nutrients. Left to eat all kinds of animals that exist.
And the girl? Was punished by
his free-will to choose to be a mother or
not. Now he was dead.